Problema no envelhecimento populacional do Brasil em relação aos geriatras
Existe uma conta que não fecha no Brasil e que só tende a crescer negativamente, caso não sejam tomadas ações devidas. O País saltou de 20,5 milhões de cidadãos com mais de 60 anos, em 2010, para 32,1 milhões no mais recente Censo, de 2022. O número de especialistas médicos em idosos, os geriatras, no entanto, vem caindo na mesma proporção: os profissionais somam apenas 6% do que seria necessário. Dado esse quadro, a solução para devida atenção com a fatia da população que só cresce — no mesmo período a expectativa de vida subiu de 69,8 anos para 75,5 anos — está na tecnologia, com aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e na intervenção intergeracional dentro da família.
Foco na autonomia do idoso contra o preconceito
Fato é que a ferramenta mais importante para o combate ao preconceito baseado na idade da pessoa, o etarismo, está no fornecimento de autonomia ao idoso. A ideia de que a pessoa envelhece, adoece e morre ficou para trás.
Tecnologia como aliada na autonomia do idoso
A IA e a robótica vêm apresentando tecnologias promissoras que propiciam maior independência e melhoram a qualidade de vida. “Tem ocorrido aumento no número de idosos com autonomia e independência preservados, maior atuação social, como voluntariado, participação em atividades turísticas focadas e que optam por reconstituir um relacionamento amoroso. Tudo isso tem relação direta com o aumento da expectativa de vida”, afirma a geriatra Vanessa Morais, que faz parte do Programa Longevidade D’Or.
Ajuda tecnológica para a autonomia do idoso
A autonomia resulta da melhora da capacidade no desempenho de atividades cotidianas, o que permite que o idoso cuide de si mesmo e tenha uma vida independente.
Consiste na aptidão para:
• tomar banho,
• se vestir,
• executar a própria higiene,
• ter continência,
• se alimentar,
• e andar.
Há testes específicos para mensurar o grau de habilidade autônoma, como as escalas de Katz e Lawton e o Índice de Barthel.
Já as chamadas atividades instrumentais da vida diária são mais complexas e determinantes para saber a capacidade de se viver sozinho sem supervisão. São ações como: fazer compras, preparar alimentos, controlar, tomar medicamentos, comportamentos que a IA pode ser de grande ajuda.
Importância da interação social e tecnológica para o idoso
Equipamentos com aplicação de inteligência artificial estão disponíveis para gerenciamento de remédios, acerto de horários de consumo e dose, detecção de quedas ou comportamento fora do padrão regular — são programados para enviarem alarmes e dados em tempo real para a família ou médico responsável.
Há também os chamados aparelhos tecnológicos vestíveis, capazes de realizar monitoramento de atividades e funções orgânicas, análise de dados, detecção de sinais precoces de doenças e fornecimento de recomendações personalizadas. Além das plataformas de telemedicina, que facilitam consultas virtuais.
Outro fator importante no cuidado e manutenção da autonomia em idosos repousa sobre a saúde mental e propensão ao isolamento. Nesse ponto, o auxílio intergeracional na família é determinante.
É recorrente a reclamação de que o idoso é “teimoso”, por não seguir ao pé da letra as orientações. Na maioria das vezes, por trás desse comportamento resistente está a perda de sentido da vida, saudade de amigos e parentes falecidos e o medo da morte.
A tecnologia criou robôs com capacidade social que oferecem apoio emocional por meio de envolvimento e estímulo cognitivo. São ferramentas que englobam conversas, jogos e até a criação de rede de amigos.
Por fim, especialistas prescrevem dois cuidados básicos para alcance e manutenção de autonomia, que também fazem parte de plano familiar: “O primeiro é a manutenção da atividade física regular, pois acontece a diminuição de massa muscular que pode desencadear um processo de dificuldade para caminhar e fazer as atividades do dia a dia. Outro pilar é manter a atividade social, familiar ou a religiosa. É essencial que o idoso mantenha a mente ativa e a capacidade de autonomia preservada”, diz Vanessa Morais.
Experiência britânica: robôs de estimação para idosos
O governo inglês investiu na distribuição de autômatos que fazem o papel de animais de estimação para fazerem companhia aos aposentados e ajudarem no combate ao estresse, ansiedade e solidão, comuns na faixa etária.
São brinquedos que parecem de pelúcia, mas vêm equipados com motores que lhes permitem certa interação, como abanarem os rabos.
O Departamento de Saúde britânico começou pela realização de testes na recuperação de pacientes que sofreram derrame e apresentam demência. “À medida em que as necessidades de assistência da nossa população aumentam, a tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante na assistência social”, justificou a ministra Helen Whately.
Estudo posterior ofereceu cães e gatos robôs a 20 aposentados. Esses vinham acompanhados de sensores de carinho com respostas semelhantes às de animais reais, como o ronronar dos felinos. Após 60 dias, os que passaram mais tempo cuidando do robô relataram níveis mais altos de bem-estar.
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