Campanha solicita reserva para proteger manguezal em PE

Comunidades de Pernambuco pedem criação da Reserva Extrativista do Rio Formoso

Comunidades tradicionais, pescadores artesanais e mais de 50 instituições da sociedade civil estão unidos em uma campanha pela criação da Reserva Extrativista (Resex) do Rio Formoso, localizada no litoral sul de Pernambuco. A proposta é proteger uma área de 2.240 hectares (ha) que abrange o último manguezal não urbano do estado.


Imagem ilustrativa

Contexto e Importância

Mais de 2,3 mil pescadores dependem diretamente do ecossistema presente nos municípios de Sirinhaém, Rio Formoso e Tamandaré. A batalha pela criação da Resex já perdura por mais de 15 anos e ganhou força com a campanha “Sem Mangue, Sem Beat”, que conta com o apoio de artistas, universidades, instituições ambientais e lideranças locais.

Os organizadores da campanha têm a expectativa de que a governadora Raquel Lyra (PSD) apoie e encaminhe o projeto para o presidente Lula, em uma data simbólica: o aniversário de 25 anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Impacto nas Comunidades Tradicionais

O movimento em prol da Resex ressalta que a criação da reserva fortalece o modo de vida tradicional das comunidades pesqueiras e quilombolas. A medida proporcionaria acesso a crédito, ICMS Ecológico, segurança territorial e estímulo ao turismo comunitário.

“Eu venho de uma família tradicional da pesca. O meu pai, a minha mãe, os meus avós eram, todos, pescadores. Fui criada nessa cultura. E, hoje, ela é importante para mim, porque é dela que eu sobrevivo. Se eu não lutar pelo mangue sadio, como é que eu vou sobreviver?”, questiona Arlene Maria, pescadora e liderança de Sirinhaém.

O manguezal é habitat de espécies como o caranguejo-uçá, o siri, o aratu e a ostra, fundamentais para a pesca artesanal e a culinária tradicional da região.

“O fungi é um prato indígena com influências africanas feito com massa de mandioca e sempre acompanhado de uma mariscada: marisco, ostra, siri, camarão, tudo isso vem do mangue. Mas, para preparar isso, ele precisa estar limpo e conservado. A resex é importante para garantir esse sustento. Sem mangue limpo, não tem mariscada. E sem mariscada, não tem fungi”, destaca Marô do Fungi, cozinheira e pescadora de Rio Formoso.

Manguezal na área do Rio Formoso, no litoral sul de Pernambuco
Manguezal na área do Rio Formoso, no litoral sul de Pernambuco – Crédito: Flavio Forner

Relevância para a Emergência Climática

De acordo com os organizadores da campanha, a preservação do manguezal está diretamente ligada à questão da proteção do clima. O ecossistema é capaz de armazenar até quatro vezes mais carbono que florestas tropicais e funciona como uma barreira natural contra tempestades e ondas, além de atuar como um filtro natural de água.

O manguezal faz parte de um sistema marinho interligado a paleocanais, plataformas continentais e cânions submarinos. Além disso, é o berçário de espécies ameaçadas como o peixe-boi, cavalo-marinho e peixe mero, sendo estes dois últimos em risco de extinção.

“Essa é uma área que as comunidades já protegem há décadas. Criar a Resex é garantir por lei o que já acontece na prática. E também é uma chance de o Brasil chegar à COP30 com um exemplo concreto de conservação costeira e justiça climática”, ressalta Nátali Piccolo, diretora da Conservação Internacional (CI-Brasil), entidade que apoia a campanha.

Engajamento Nacional

A campanha #SemMangueSemBeat possui uma plataforma online, onde são compartilhadas informações, cartas de apoio e ferramentas de adesão ao movimento. Um dos principais apelos é para que as pessoas enviem mensagens à governadora de Pernambuco em apoio à causa.

O nome da campanha foi escolhido em homenagem ao movimento Manguebeat, que surgiu nos anos 1990, tendo em Chico Science, Fred 04 e outros artistas seus principais representantes. A referência também destaca a importância de valorizar a liderança e o protagonismo das comunidades pesqueiras, que são parte fundamental da identidade cultural de Pernambuco.

Fonte: Agência Brasil

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